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Dia do Trabalhador

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Quando Deus criou o ser humano lhe conferiu três encargos básicos: a) Sede fecundos e multipliquem-se; (Gn 1,28); b) Encham e submetam a terra (povoar Gn 1,28); c) Cultive a terra (eu lhe entrego todas as ervas que produzem frutos – cf. Gn 1,29)
A partir destes versículos bíblicos percebemos que o Homem é criado dentro de um contexto de trabalho de “cultivar e submeter a terra” (cf. Gn 1,28), por isso o tempo do ser humano na terra é também um tempo de trabalho que é visto como uma continuidade na obra criadora de Deus. A missão da mulher e do homem é humanizar a si próprios e a terra onde vivem através do trabalho, pois ele manifesta uma parte da “imagem e semelhança” do ser humano com Deus. 

Jesus, que assumiu a nossa condição humana, também pertence ao mundo do trabalho por que a maior parte de sua vida passou junto de seu Pai adotivo São José exercendo como ele o ofício de carpinteiro e marceneiro. Jesus ao falar da obra da criação e da salvação afirma: “meu Pai trabalha até agora, e eu trabalho também” (Jo 5,17), para afirmar que no plano original de Deus o trabalho permite ao ser humano a manifestação plena do seu ser original, da sua criatividade e da sua personalidade. 

A ética cristã do trabalho parte do princípio que Deus ao realizar a sua obra criadora concluiu que tudo era bom. Por isso ela se questiona:  “o ser humano hoje pode falar que tudo o que ele faz com o seu trabalho e com a criação é bom?  Existe biblicamente uma diferença na valorização das profissões ou alguma lei trabalhista? Qual o conceito de progresso? Quais os perigos em relação ao trabalho?

A Bíblia nos mostra que desde o Gênesis o trabalho do ser humano se ramificou através de várias profissões: agricultor e pastor (Gn 4,2); construtor de cidades e tendas (Gn 4,17); músicos (Gn 4,21); laminadores de metais (Gn 4,22); cultivadores da uva (Gn 9,20), e não se encontra nela referências que digam que esta ou aquela profissão é mais ou menos digna, exceto a criação de animais impuros (porcos) e da construção de ídolos. Mostra que todo ser humano, por vocação divina é chamado para o trabalho por isso deve assumir com alegria este encargo do Criador.  A ética cristã mostra que é preciso superar o distanciamento extremo que existe hoje na remuneração de certas profissões em relação à outras.

Uma das primeiras leis trabalhistas da história, que esta fundamentada pela Bíblia é o descanso.  O ser humano não trabalha simplesmente por trabalhar, mas para cooperar com a Criação de Deus, para seu sustento, o de sua família, para a realização pessoal, para a edificação da Igreja e para o progresso da sociedade na qual está inserido.  Para que o trabalho não se torne desumano Deus criou a noite e instituiu o sábado como dia de descanso. A palavra “sabat” do hebraico significa descansar. Diz o Gênesis: “Deus então abençoou e santificou o sétimo dia, por que foi neste dia que Deus descansou de todo o seu trabalho como criador” (Gn 2,3). Assim o critério para classificar o trabalho como humanizante ou desumano não é apenas o do sucesso ou o de quanto foi produzido, mas se este respeita ou não a dignidade do homem e da mulher. 

Em geral o progresso é visto como uma benção de Deus. Conforme o filósofo espanhol Ferrater Mora, o progresso pode considerar-se como um processo ou evolução onde se incorporam os valores. A Igreja não é obstáculo para este tipo de progresso. O que a Igreja denuncia é o falso progresso que quer dispensar Deus da vida humana, que quer confiar somente na técnica e no próprio homem. Por outro lado “combater a miséria e lutar contra a injustiça, é promover não só o bem-estar mas também o progresso humano e espiritual de todos e, portanto, o bem comum da humanidade” (Populorum Progressio). 

Diz São Paulo: “Empenhai a vossa honra em levar vida tranquila, ocupar-vos dos vossos negócios, e trabalhar com vossas mãos conforme as nossas diretrizes” (1Ts 4,11). Trabalhar e ganhar com honra o seu sustento é um direito de todo o ser humano. Toda atividade humana que busca o sustento de si, de sua família, e o bem da coletividade, contribui para a realização do plano de Deus na história, por isso é necessário relacionar todo o trabalho com o Criador: “Se o Senhor não constrói a casa, em vão trabalham os seus construtores” (Sl 126,1).
Dois perigos o homem e a mulher devem evitar em relação ao trabalho: a) submeter-se tanto ao trabalho que se assemelhe aos animais, ou seja, torná-lo desumano; 2) por causa do progresso ou do crescimento das riquezas pessoais, querer esquecer-se ou ocupar o lugar de Deus.Quando o ser humano começa a supervalorizar a sua própria obra criadora e nela coloca a sua única segurança e realização acaba se esquecendo de Deus e faz das coisas materiais a sua idolatria, que é adorar as criaturas no lugar do Criador.

  Particularmente vejo que o único modo de resgatar a dignidade da pessoa humana hoje, é dando-lhe o direito a uma profissão através da qualificação de mão de obra técnica e especializada; dando acesso à educação em todos os níveis, desenvolvendo políticas públicas que propiciem a abertura de novos postos de trabalho; do primeiro emprego, de uma justa remuneração a todas as profissões, de uma aposentadoria digna para aqueles que já contribuíram para o progresso do nosso país; de saúde para todo o povo, pois um povo com saúde é um povo que trabalha. 

Pe. Valdir Luiz Koch.

 
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